“No começo dos tempos, depois de ter criado todas as coisas inertes e todos os seres vivos do Universo, reuni-me em Assembleia com todos os meus anjos, para apreciar, discutir e deliberar sobre toda a minha Criação. Depois de alargada discussão com os presentes, verifiquei, que faltava algo que desse sentido à minha Obra. Assim, pedi-lhes, que me apresentassem um projecto que atribuísse sentido a esta, pois sentia que lhe faltava qualquer coisa. Pedi-lhes por isso, que me fizessem uma maqueta de uma criatura que estaria longe do céu, que vivesse com os pés no chão, mas que trouxesse algo de muito especial, algo de divino.
Os anjos obedecendo à minha vontade, fizeram o primeiro esboço, um rascunho de um ser dotado de força física, raciocínio lógico e rápido e com muita coragem para enfrentar os grandes desafios da vida. Quando me apresentaram a maqueta em barro, Eu olhei para aquele pequeno boneco de argila, e senti logo um grande amor por ele e uma forte vontade de lhe dar vida, o que o fiz com um sopro. Todavia, tive a convicção de que ainda não era exactamente aquilo que Eu queria.
É certo que valorizei a importância da sua força física, do seu raciocínio e da sua coragem, mas essa criatura deveria ir muito mais além e por isso, voltei a lembrar aos meus anjos a questão da divindade que lhes havia recomendado.Sei que perante tão grande problema, eles estudaram o assunto por todo aquele dia, e ao cair da tarde ainda estavam debruçados sobre o problema e, com a chegada do início da noite, ainda o não tinham de todo resolvido.
Quando, com a sua luz leitosa, o grande astro iluminou a Terra e os oceanos, os Meus anjos de imediato nele se inspiraram e, decidiram, que este novo ser deveria ter a beleza da Lua e os mistérios da noite, e ao contrário do boneco de barro anterior, teria na sensibilidade e no sexto sentido a sua força. Teria ainda o controle e o domínio da situação, pois viveria o amor conforme as razões do seu coração. Seria forte e suportaria por isso as dores da vida. Mas quando os sentimentos chegassem aos seus olhos, em forma de lágrimas, lembraria ao mundo a sua fragilidade e a sua doçura.
Lembro-me que um deles, mais atento à Minha vontade, nessa Assembleia, relembrou a condição da divindade imposta. Em consenso, idealizaram que o novo ser não teria asas como eles, mas teria a capacidade de trazer a vida para a vida, o que seria o grande sinal da sua divindade.Os anjos quando me apresentaram esta nova maqueta, logo percebi, que finalmente a minha obra estava completa e baptizei este ser de Mulher. ”
